quarta-feira, 22 de junho de 2011

Duas orelhas e uma boca - parte 2

Hoje é dia 22 de junho de 2011 e faz exatamente 484 anos da morte de Nicolau Maquiavel, o autor de O Príncipe. Maquiavel não se baseava em um sujeito maldoso e perverso como se faz sinônimo do adjetivo que origina de seu nome (maquiavélico), com o livro O Principe, o objetivo principal era criar uma obra que servisse como sustentação aos governos monárquicos do século XVI, principalmente numa Itália desunida e vulnerável. Como todo doutrinador científico, Maquiavel anotava todos seus experimentos, baseados principalmente em conversas e em longos diálogos acreditando que não se fazia ciência sem anotações.

As anotações são muito utilizadas até nos tempos atuais. Desde os tempos de faculdade, anotava-se muito do que os professores explicavam, anotava no estágio as estratégias jurídicas, anotava até na memória o que os mestres me falavam, posso dizer que algumas eu esqueci e outras não, mas o mais importante não era a anotação em si, era o que seria anotado e o som da voz de quem anotava soava muito pouco em comparação aos ouvidos.

Ha algum tempo atrás escrevi o que acho o melhor texto da minha vida o "Duas orelhas e uma boca" onde descrevo, principalmente, quando conheci um garoto portador do HIV numa casa de recuperação e apoio a dependentes químicos e alcoólatras. Pois bem, há algum tempo atrás, tive a oportunidade de revê-lo voltando do hospital onde estava internado por fortes dores no abdômen, o garoto aparentava fraquesa e estava pálido parecia uma batata,ele passou do meu lado no corredor e foi-se sentar numa cadeira no canto da parede, perguntei a ele se estava bem e me respondeu com um sinal positivo e virou o rosto para a parede, resolvi respeitar o seu espaço e não mais dialoguei. Quando estava indo para a casa, fiquei analisando tudo que aquele menino tinha passado, com a perda dos pais portadores do HIV e dependentes químicos em que o filho acabou herdando, dos maus tratos que recebeu nas ruas, da sua sentença de vida sem direito à ampla defesa, cheguei a conclusão que sua única defesa era não olhar para ninguém.

Assim como Maquiavel este garoto faleceu na data de hoje dia 22 de junho de 2011 e hoje é o meu dia de ficar com o rosto virado para a parede.

Um abraço a todos e fiquem com Deus.